Dom de línguas, eita assunto polêmico! Talvez, não exista um assunto bíblico tão discutido como o famoso “dom de línguas“. De vez em quando alguém pergunta: “E o dom de línguas pastor, o senhor crê?” Como vocês interpretam o dom de línguas? Como nós interpretamos? Boa pergunta, pois a interpretação precisa ser bíblica, respeitando os textos e contextos bíblicos. Então, antes de mais nada, precisamos respeitar o que a Bíblia diz, nossa base não pode ser o nosso próprio gosto pessoal ou religioso. Sei que atualmente existem muitos escritos, estudos e pregações sobre o assunto, mas gostaria de falar um pouquinho sobre “a torre de Babel e o dom de línguas”.
Geralmente, quando alguém toca no assunto sobre o dom de línguas, alguns textos são rapidamente lembrados e mencionados! Certamente os textos de Atos, capítulo 2, e I Coríntios capítulos 12 e 14 são sempre citados numa discussão sobre o assunto. Quando o universo do tema gira apenas em torno de tais textos, provavelmente incorreremos em erro, e muitas vezes, grande erro! Por quê? Pense comigo, Lucas escreveu Atos para Teófilo, note em (Atos 1.1), entretanto, neste mesmo texto ele diz que é uma “sequência”, que o livro não pode ser lido sem a sua primeira parte, notem (Lucas 1.3). E você já notou que ele havia falado “muito” sobre o Espírito Santo no evangelho de Lucas? Que a questão de ser “cheio do Espirito Santo” é mencionado por ele várias vezes no evangelho? Melhor ainda, que no original ele usa em ambos os livros as mesmas palavras para o “cheio do Espírito Santo”? Confira os seguintes textos no evangelho de Lucas: 1.15 – 1.41 – 1.67 – 4.1. No original, todos os textos usam as mesmas palavras que Lucas usou em Atos 2.4. Teófilo certamente percebeu isso em sua leitura, pois ele deve ter lido o evangelho com atenção e depois o livro de Atos na sequência. O exemplo dado é para exemplificar que precisamos fazer uso de outros textos importantíssimos para uma discussão sensata sobre o “dom de línguas”, não podemos ficar restritos apenas a Atos e I Coríntios. Exemplo dado, quero refletir sobre o “dom de línguas” usando o texto da torre de Babel em Gênesis capítulo 11. Pensemos:
1 – Você já percebeu que o grande pecado no episódio da torre de Babel foi a desobediência dos homens em não se “espalharem” pela terra ( Gênesis 11.4)? Uma desobediência as ordens de Deus dadas no jardim do Éden ( Gênesis 1.28). Em Babel os homens quiseram construir a torre para que não fossem “espalhados pela terra”. É importante lembrar que eles estavam numa “planície”, e planície não tem montanhas para servir de ponto de referência, logo eles fizeram a torre para não se “espalharem“. Diante da desobediência dos homens, o próprio Deus tratou de fazer com que os homens cumprissem suas ordens, o Senhor os confundiu com “línguas” e “espalhou-os” pela superfície da terra.
2 – Você já percebeu a ligação que isso tem com o “dom de línguas“? Note a promessa do nosso Senhor Jesus em Atos 1.8! Ele diz: ” …mas recebereis poder, as descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra.” E até os confins da terra? Isso não significa que os discípulos iriam por toda a superfície da terra pregando a palavra? Nosso Senhor Jesus Cristo não está mostrando profundo amor pelos homens? Pois os homens que Deus mesmo espalhou, não são os homens que Ele mesmo buscará? Não é Senhor quem faz a ferida, mas ele mesmo sara ( Oséias 6.1)? Em Atos capítulo 2 não temos a solução para a torre de Babel, solução dada pelo próprio Deus? Não temos um exemplo de que Deus transforma o mal em bem?
3 – Você já percebeu como Deus fala no episódio da torre de Babel? Ele diz: “Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem do outro ( Gênesis 11.7)”. Por qual razão Moisés teria registrado o texto em voz no plural, mostrando que ali está mais do que uma pessoa? Não é isso que o texto nos aponta com “desçamos e confundamos“? E quando lemos tais palavras não precisamos entender que o Espírito Santo ali está? Por acaso Ele não está presente no fenômeno da confusão das línguas? Como os homens poderiam ter começado a falar tantas outras línguas se não fosse pela sabedoria do Espírito Santo, pois não é Ele quem ensina ( I Coríntios 2. 10-12 – João 14.26 – João 16.13)? Oras, se o Espírito Santo está presente na confusão das línguas, não deveríamos lembrar que é Ele quem resolve o problema em Atos 2? O texto não estaria apontando para tais ligações?
4 – Em Babel Deus não diz que “desceria” para confundir? Não é curioso que nosso Senhor diz que o Espírito Santo “desceria” sobre os discípulos (Atos 1.8 – 2.2)?
5 – O texto de Gênesis 11.1-9, não mostra uma obstinada desobediência em não cumprir o querer de Deus em povoar toda a terra? O Senhor não traz as “línguas” como sinal de juízo? Não confunde através das línguas para que não tenham um mesmo propósito e persistam no erro? Em Atos 2 não seria a inversão, onde Deus estaria apontando para “misericórdia” sobre povos que Ele havia derramado juízo em Babel, e justamente as línguas eram o sinal desse juízo! Entretanto agora as línguas são sinal de misericórdia sobre todos os povos? Não fora nesse sentido que o Senhor Jesus disse o texto de (Marcos 16.17)? Quando Pedro prega que Deus derramaria seu Espírito sobre “toda” a carne, não aponta para todos os povos ( Atos 2.17)? Não foi exatamente isso que Pedro entendeu e disse na casa de Cornélio ( Atos 10.28 – 10.34-35)?
6 – Não é extremamente curioso que logo após o episódio da torre de Babel, quando surgiram as nações, Deus chama Abraão para dele fazer uma nação especial? Seria pensar demais que Deus estaria fazendo a mesma coisa em Atos 2, com as línguas, pois Ele não está trabalhando em uma nação especial (igreja), agora com pessoas de todos os povos, remidos pelo sangue de Cristo? Isso não estaria ligado a promessa de Deus feita para Abraão, que através de Cristo ele abençoaria todas as nações (Gênesis 12.3)?
Sei que existem muitas outras questões para serem discutidas! Meu intento não é responder tudo, pois quem o pode? Meu intento com o escrito é pensarmos mais sobre o “dom de línguas“, observando melhor outros textos além de Atos 2 e I Coríntios 12 e 14! Espero que o escrito possa de alguma forma ajudá-los e incentivá-los na reflexão sobre assunto tão complicado!
Pr. Edson do Prado Padilha – 28/07/2016.